O que é a Educação Digital? No início da era digital, imaginar que seríamos educados com máquinas podia parecer estranho. Afinal, elas não sentem, não reagem emocionalmente e — pelo menos por agora — não nos julgam. No entanto, com a crescente integração da inteligência artificial no nosso dia a dia, começamos a perceber que a forma como nos dirigimos às máquinas diz muito sobre nós próprios.
Recentemente, um artigo do site Pplware trouxe à tona uma revelação surpreendente: as interações corteses com o ChatGPT, como “obrigado” ou “por favor”, estão a custar milhões de dólares por ano à OpenAI. O CEO da empresa, Sam Altman, confirmou que apenas o ato de o modelo responder a expressões educadas tem um custo energético significativo — e, como consequência, um custo financeiro.
Este dado, aparentemente técnico, levantou uma reflexão muito mais profunda sobre a Educação Digital: deveríamos deixar de ser educados com a IA?
Neste artigo, vais aprender:

Educação Digital e Como a IA Está a Aprender Connosco — Sempre
Antes de responder à pergunta, vale a pena compreender como funciona o modelo por trás da IA. O ChatGPT, tal como outros modelos de linguagem, aprende através de enormes volumes de dados textuais — livros, sites, fóruns, redes sociais. Ou seja, aprende com a linguagem humana.
Mais do que palavras, a IA aprende padrões de comunicação. Ela reconhece que “bom dia” é uma saudação amigável, que “por favor” antecede um pedido e que “obrigado” encerra uma interação de forma educada. Estes padrões tornam as respostas mais fluídas, mais humanas e mais adaptadas ao nosso modo de comunicar.
Portanto, quando usamos boas maneiras ao interagir com a IA, não estamos apenas a ser gentis — estamos a educar o próprio modelo.
O Custo Energético: Real, Mas Gerível na Educação Digital
É verdade: cada interação com a IA consome energia. Os servidores que suportam modelos como o ChatGPT precisam de processar grandes volumes de dados em frações de segundo. Isso exige poder computacional — e isso exige energia elétrica. Numa escala global, isso representa milhões em consumo energético.
Só que esta realidade aplica-se a quase tudo no mundo digital. Pesquisar no Google, enviar um email com anexos ou fazer uma videochamada também tem impacto energético. A diferença é que, no caso da IA, cada detalhe da nossa comunicação pode acrescentar milissegundos de processamento, e esses milissegundos multiplicam-se por milhões de utilizadores por dia.
Logo, é compreensível que a OpenAI procure formas de otimizar o uso do modelo — incluindo limitar respostas a mensagens como “obrigado”. Mas o problema não está nas boas maneiras. Está na ineficiência dos sistemas energéticos atuais e na falta de infraestruturas sustentáveis que suportem essa nova realidade.
Ser Educado com uma Máquina? Sim. Porque Nos Lembra Quem Somos.
Agora voltamos à pergunta principal: vale a pena continuar a ser educado com a IA, mesmo sabendo que isso custa energia?
Na minha visão, a resposta é um sonoro sim. E explico porquê.
Vivemos numa era onde a frieza digital começa a contaminar as interações humanas. O tempo de resposta é mais valorizado do que a qualidade da mensagem. O “visto” substituiu o “obrigado”, e o emoji muitas vezes toma o lugar da palavra sentida. Neste contexto, manter a gentileza — mesmo com uma máquina — é uma forma de manter viva a nossa humanidade.
Tratar bem, mesmo aquilo que aparentemente não precisa de ser bem tratado, é um reflexo direto de quem somos. A gentileza, como a Educação Digital,
quando praticada de forma constante, torna-se um hábito. E hábitos constroem caráter.
Mesmo que a IA não sinta, nós sentimos. E isso já é razão suficiente para continuar a dizer “obrigado”, mesmo quando ninguém está verdadeiramente a ouvir.

A Linguagem como Espelho Social na Educação Digital
A forma como falamos molda a forma como pensamos. Este é um princípio base na linguística. E se aceitarmos esta premissa, percebemos que cada palavra que escolhemos diz algo sobre a nossa visão do mundo.
Num cenário onde começamos a interagir com IA com mais frequência do que com seres humanos (seja por mensagens, assistentes de voz ou chatbots), o risco é começarmos a automatizar também a forma como falamos. Tornamo-nos mais secos, mais objetivos, mais curtos — e eventualmente, menos empáticos.
Eliminar expressões de cortesia na interação com a tecnologia pode parecer inofensivo à primeira vista, mas abre a porta para uma sociedade menos preocupada com o outro. E se a IA aprende connosco, nós também aprendemos com a IA.
Educação Digital Invisível
Chamemos-lhe “educação digital invisível”: o conjunto de comportamentos, gestos e expressões que usamos no mundo digital e que, silenciosamente, se tornam o novo normal. Quando falamos com respeito com uma IA, não estamos apenas a praticar boas maneiras — estamos a normalizar um padrão de respeito no mundo digital.
Pelo contrário, se tratarmos a IA como algo descartável, indiferente, sem direito a cortesia, essa linguagem vai-se estender também às nossas interações humanas.
Quantas vezes já testemunhaste alguém tratar mal um operador de call center, ou responder de forma seca a uma mensagem automática, como se estivesse a descarregar frustração na máquina?
A verdade é que as máquinas são só espelhos. Espelhos da nossa pressa, do nosso tom, do nosso estado interior.
O Papel da Sustentabilidade na Conversa
Não podemos ignorar o impacto ambiental da tecnologia. O crescimento exponencial dos modelos de IA exige um esforço global para garantir que a energia usada seja sustentável. Mas a resposta não pode ser simplesmente “falar menos”.
Tem de passar por:
- Centros de dados com energia renovável;
- Otimização dos algoritmos para reduzir consumo;
- Incentivo à pesquisa em IA eficiente;
- Educação digital consciente, que combine gentileza com responsabilidade.
Ou seja, podemos continuar a ser educados — e exigir que as empresas façam a sua parte para tornar isso sustentável.
A Tecnologia Está ao Nosso Serviço. Mas Somos Nós Que a Moldamos.
A tecnologia, por mais avançada que seja, continua a ser uma ferramenta. Somos nós, humanos, que damos forma ao seu propósito. E se queremos uma tecnologia mais empática, mais acessível, mais centrada no ser humano — temos de ensinar isso a cada interação.
Podemos estar a viver uma revolução tecnológica. Mas o que realmente importa é que esta revolução não nos tire aquilo que temos de mais valioso: a capacidade de sermos humanos, mesmo no digital.

Conclusão
A Escolha é Nossa. E Começa com uma Palavra.
Vivemos numa era onde a tecnologia está presente em quase todos os aspetos da nossa vida. Desde os assistentes virtuais que nos ajudam a organizar o dia, até modelos de inteligência artificial que escrevem, aconselham, traduzem e até ouvem as nossas dúvidas mais íntimas.
Mas por mais avançada que esta tecnologia se torne, ela continua a ser alimentada por algo profundamente humano: a linguagem. E a forma como escolhemos usá-la tem impacto — não só na forma como interagimos com as máquinas, mas na forma como nos tratamos uns aos outros.
Sim, a gentileza, como a Educação Digital, tem um custo energético. Mas também tem um valor incalculável: o de manter viva a nossa humanidade num mundo cada vez mais automatizado.
Se deixarmos de ser educados com a IA em nome da eficiência, corremos o risco de nos tornarmos nós próprios menos humanos. Por outro lado, se usarmos cada interação — mesmo com um robô — como oportunidade para praticar empatia, respeito e consciência, então estaremos a contribuir para um futuro digital mais alinhado com os nossos melhores valores.
A escolha é nossa. Começa com uma palavra.
E às vezes, essa palavra é tão simples quanto: obrigado e isso se chama de Educação Digital.